48 horas por um sorriso

O que você faria se seu filho nascesse com um problema de saúde e a solução para operá-lo dependesse de uma viagem de 48 horas? O pai do pequeno Ygor não teve dúvidas; enfrentou 4 dias de viagem para conseguir a cirurgia que transformaria a vida de seu filho

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O que você faria se seu filho nascesse com um problema de saúde e a solução para operá-lo dependesse de uma viagem de 48 horas?

O pai de Ygor, de 1 ano, que nasceu com fissura bilateral no lábio e fenda no palato não teve dúvidas; encarou 4 dias de viagem fluvial com o filho para conseguir o tratamento capaz de mudar a vida do garoto para sempre.

A família de Ygor mora em Porto de Moz, uma comunidade às margens do Rio Xingu. Em uma linha reta, a cidade fica a pouco menos de 300km de Santarém, onde a missão da Operação Sorriso aconteceria. Mas o trajeto não tem estradas, então só pode ser feito de avião ou barco.

Os pais de Ygor, os lavradores Jesiel e Janaína, não tinham condições de ir até uma cidade maior e pagar a passagem de avião. Logo, a única opção para conseguir a cirurgia gratuita foi enfrentar a viagem de balsa, que inclui várias paradas ao longo do caminho e um trajeto cheio de zigue-zague pelos sinuosos rios Xingu e Amazonas.

Janaína ficou em casa com o filhinho recém-nascido, e Jesiel foi o guardião de Ygor nessa longa caminhada. A viagem começou em uma quinta-feira e terminou apenas no domingo, um dia antes da triagem dos pacientes.

Jesiel conta que já exisitiam outros casos de fissura na família da sua esposa, mas como ela fez exame de ultrassom e as fendas não apareceram, foi uma surpresa para a família quando souberam que o garotinho tinha nascido com fissura labiopalatina. “Antes de entregar o Ygor pra gente, a enfermeira disse que meu filho tinha nascido com uma deficiência no rosto”, lembra. “A gente ficou assustado, mas quando viu que era o mesmo problema dos parentes da minha esposa, ficamos mais tranquilos de ver que era só aquilo. E achamos ele lindo mesmo assim!”

Ainda no hospital, o médico orientou Janaína sobre a melhor técnica para amamentar seu filho fissurado, então Ygor foi ganhando peso normalmente e não teve problemas de desnutrição, uma complicação comum a crianças que não conseguem mamar direito por causa da fenda.

Voltando ao presente, ao chegarem na triagem dos pacientes, Jesiel conta que ficou triste ao ver tantas crianças com fissura. “Nunca pensei que tivesse tanta gente com o mesmo problema do meu filho”, confessa.

Ygor foi selecionado para a cirurgia, que aconteceu 3 dias depois e levou pouco mais de 45 minutos. Ao ver o rosto do seu filho com o lábio fechado, ainda na sala de recuperação, o tímido Jesiel abriu um largo sorriso pela primeira vez. “Ter conseguido a cirurgia de graça com vocês fez cada minuto da viagem valer a pena”, diz, emocionado. “Ano que vem a gente volta pra ele fechar o céu da boca!”

Jesiel sabe que se não fosse operado ainda pequeno, seu filho poderia sofrer quando crescesse. “Na nossa comunidade o pessoal não mexia com ele, porque já tavam acostumados com a boquinha. Mas a gente sabe que as pessoas que não tão habituadas podem dar nomes ruins ou falar coisas dele. Então tô muito feliz que a gente conseguiu a cirurgia agora”, afirma.

E se no próximo ano eles tiverem que enfrentar mais 48 horas de viagem para conseguir a segunda cirurgia? “A gente vem! A gente viaja até 1 mês se precisar”, brinca Jesiel, enquanto fecha a mala e se prepara para partir, já com a cabeça na missão do ano seguinte.

 

Se você gostou dessa história e quer ajudar mais crianças a terem a mesma oportunidade que o Ygor, clique aqui para fazer uma doação.

“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso