A PROMESSA PARA SÃO FRANCISCO

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Alguns pacientes têm uma longa história com a Operação Sorriso. Dependendo do tipo de fissura, alguns precisam de muitos mais do que uma única cirurgia.

A história de Francisco é uma dessas e seu vínculo com a Operação Sorriso começa em 2016, na primeira missão humanitária realizada em Mossoró (RN). A timidez fazia com que ele interagisse muito pouco com as pessoas. As perguntas que recebia eram respondidas com um tom de voz muito baixo, quase inaudível, e o olhar, frequentemente virado para o chão. Os longos cabelos ajudavam a esconder a fenda bilateral no rosto.

Francisco veio acompanhado da avó, dona Cosma, então com 67 anos. Eles moram juntos desde que ele era bebê. “O pai nunca foi presente e a mãe dele, minha filha, me entregou quando ele saiu da maternidade, porque disse que não saberia criá-lo,” lembra a idosa.

O menino também tinha uma abertura no céu da boca, e a família não foi orientada no hospital sobre como alimentá-lo. Segundo dona Cosma, ele não mamou e engasgava muito ao receber líquidos, por isso ela passou a alimentá-lo apenas com uma colher.

Agricultora aposentada, dona Cosma vivia apenas com o dinheiro que recebia do governo. A pouca quantia sustentava ela, o neto e mais um filho que mora com eles. “Os vizinhos também ajudam bastante dando coisas quando a gente precisa,” diz.

Ao longo dos anos, ela deixou Marizópolis, no sertão da Paraíba, onde mora, e levou o neto duas vezes até a capital João Pessoa para tentar conseguir a cirurgia reparadora, mas ele acabou não fazendo, porque tem asma e disseram que seria um risco operá-lo.

Até que em 2016, o pai de uma voluntária da Operação Sorriso ficou sabendo do caso de Francisco e avisou-os sobre a missão cirúrgica em Mossoró, a 4 horas de distância de carro de Marizópolis.

Francisco, então com 12 anos, foi um dos 53 pacientes selecionados para a cirurgia. No dia seguinte ao da cirurgia, o cabelo comprido foi cortado por dona Cosma, que havia feito uma promessa a São Francisco (o mesmo nome do neto): assim que ele fechasse a fenda labial, cortaria o cabelo para agradecer a graça alcançada.

Seis meses mais tarde, a Operação Sorriso retornou mais uma vez a Mossoró. E lá estavam neto e avó, na esperança de conseguir a cirurgia reparadora para o palato. De novo, o jovem foi selecionado e operado.

Três anos se passaram até reencontrarmos os dois. Francisco cresceu bastante e agora está com 16 anos. Dessa vez, o objetivo é fazer um reparo na cicatriz que ficou acima dos lábios. Os mesmos voluntários que o avisaram sobre a primeira missão,  

Ao ser questionada sobre o que mudou nesse período, dona Cosma lembra que antes, quando saia com o neto na rua e alguém apontava para ele, Francisco se escondia atrás dela. “Ficava com pena e acabava voltando para casa,” conta.

Na escola, as crianças também já não mexem mais com ele. “Ele é bem envergonhado, mas tem amigos e é bom aluno,” diz ela. A matéria preferida? Geografia.

Dona Cosma ressalta a importância dos estudos para o neto. Analfabeta, ela sonha com um futuro melhor para Francisco, bem diferente do dela. “Quero que ele seja uma pessoa do bem. Ele escreve bem, tem a letra bonita... Oriento para ele estudar, para que consiga um emprego bom em um escritório,” fala.

Fora da escola, nas horas de lazer Francisco trocou as bolinhas de gude pelos jogos no celular. Quando perguntado sobre qual é seu jogo favorito, ele responde sem tirar os olhos da tela: Minecraft.  

Apesar dos 71 anos de idade e da aparente fragilidade física, com um o corpo magro e o rosto cavado, dona Cosma tem bastante energia. Gosta de conversar e, enquanto aguardava o neto voltar da cirurgia, até sambou com um grupo de médicas e enfermeiras da Operação Sorriso.

Ao ser chamada para buscá-lo, juntou as mãos e agradeceu a Deus. “Tô muito feliz que deu certo mais uma vez. Sou religiosa e rezei muito para que a gente fosse agraciado de novo. Assisto a missa na TV e rezo de olho fechado, porque tenho muita fé. E olha aí como funcionou!”, exclama. 

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Se você gostou dessa história e quer ajudar mais crianças a terem a mesma oportunidade que o Francisco, clique aqui para fazer uma doação.


“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso