AMOR SEM TAMANHO

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Ao contrário da maioria das histórias de paciente que contamos, essa começa de um jeito diferente. Não tem a alegria da descoberta da gravidez. Também não tem ultrassom que mostre a fissura. O momento do parto? Não tem aqui.

Em compensação, o que não falta nesse relato é amor.

A história de Ester começa no ano 2000, em uma casa de apoio em Natal (RN). Anne, uma missionária neozelandesa, era a responsável por um lar que abrigava cerca de 10 crianças com idades entre 1 e 14 anos em situação de vulnerabilidade.

Anne desejava tirar férias, pois não visitava seu país natal há muitos anos. O casal de pastores Auxiliadora e Joélcio, amigos da neozelandesa, se ofereceram para cuidar do lar para que ela pudesse viajar. “Fechamos a nossa casa e levamos junto a Indira, nossa filha,” lembra Auxiliadora.

Eles ficaram lá por um tempo e, uma semana depois de voltarem para casa, Anne avisou que havia chegado uma bebê e os chamou. Os pais da criança tinham problema com drogas e o conselho tutelar levou-a para a casa de apoio.

Quando Auxiliadora e Joélcio chegaram, foi amor à primeira vista! Anne não havia comentado que a criança tinha uma fenda no lábio, mas esse detalhe não fez a menor diferença para eles. “Ficamos brincando o dia inteiro com ela,” recorda Auxiliadora, com um sorriso largo.  

O dia de visita virou um fim de semana com a família. E ao retornarem ao abrigo para devolvê-la, foram chorando. A partir desse dia, o casal decidiu que correria atrás da documentação para adotá-la.

Por coincidência, na mesma semana souberam que a Operação Sorriso estaria na capital do Estado para realizar cirurgias gratuitas para correção de fissura labiopalatina. Só havia um pequeno problema: Ester ainda não tinha sido registrada pelos pais biológicos, por isso não tinha documentos. A pressa para operar era grande, pois Auxiliadora e Joélcio sabiam que quanto mais cedo a cirurgia fosse feita, menos ela sofreria.

No dia da triagem dos pacientes, eles ainda não tinham conseguido regularizar a situação da bebê. Mesmo assim, a levaram ao hospital para que fosse avaliada. Uma força-tarefa de assistentes sociais fez com que os pais biológicos se convencessem a registrá-la naquele dia, para que Ester pudesse participar da missão cirúrgica.

Porém, Joélcio e Auxiliadora não contavam com outro contratempo: Ester tinha apenas 4 meses na época e baixo peso para a idade. Nessa missão, não havia nenhum médico especializado em cirurgia de bebês tão pequenos.

Ciente de que provavelmente outra oportunidade como essa não apareceria tão cedo, a equipe do hospital localizou um cirurgião plástico chileno especialista em bebês, que por coincidência estava passando férias aquela semana justamente em... Natal!

Comovido, o médico interrompeu suas férias e, no dia seguinte, foi ao hospital devolver o sorriso para aquela nova família. A alegria foi tão grande, que até hoje eles guardam de lembrança a matéria que saiu no jornal sobre a missão humanitária.

Após a cirurgia, uma advogada amiga do casal os auxiliou com o processo de adoção. Foram 3 anos até conseguir a guarda provisória. “Hoje, inclusive, faço parte de um grupo de pais que ajudam uns aos outros no processo de adoção,” conta Maria Auxiliadora.

O nome original de Ester era Maria Luisa, e a escolha do novo nome não foi à toa: na Bíblia, Ester, rainha da Pérsia, perdeu os pais muito nova e foi adotada por Mordecai.

***

Essa história agora dá um salto de 20 anos. Ester cresceu, virou uma jovem linda, dona de um salão de beleza e que adora cantar na igreja. Porém, que ainda sonha em fazer mais uma cirurgia para reparar uma cicatriz no lábio e preencher a gengiva. A respiração também a incomoda um pouco.

Cerca de uma semana antes da ida da Operação Sorriso a Mossoró (RN), uma agente de saúde visitou sua casa e avisou sobre a missão. Ester veio sozinha à triagem dos pacientes e, no dia seguinte, soube que havia sido contemplada de novo com a cirurgia reparadora. Seus pais viajaram para acompanhá-la no dia da cirurgia. “Sou muito grata à Operação Sorriso. Mudou a vida dela naquela época e agora é outro sonho realizado,” diz Auxiliadora.

O momento do reencontro entre mãe e filha, logo após a cirurgia, encheu de lágrimas os olhos de quem acompanhou a cena. Auxiliadora caminhou até o leito, viu o novo rosto da filha, abriu um sorriso e segurou sua mão delicadamente.

 

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Após a cirurgia, Ester também era só alegria. “Dormi super bem à noite. Respirei bem, não ouvi um barulho que fazia pelo nariz antes, não ronquei... Agora posso até ir dormir na casa das amigas,” fala, rindo.

Auxiliadora, Joélcio, Ester e Indira. Uma família unida pelo amor. 

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Se você gostou dessa história e quer ajudar mais crianças a terem a mesma oportunidade que a Ester, clique aqui para fazer uma doação.

“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso