Muito além do sobrenome

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Guilherme nos braços do anestesista voluntário Dr. Marcelo Teixeira

O sobrenome é o mesmo. A cor do cabelo é idêntica. O sorriso largo também é muito parecido. Muitas são as características que unem pai e filho. Mas no caso do pequeno Guilherme, de 3 meses, e de seu pai Eduardo, de 26 anos, existe uma característica a mais que os conecta: a fissura labial.

Guilherme é o único filho do vendedor Eduardo e da dona de casa Rosi. “Um dia me falaram que poderia ter um filho com o mesmo problema que eu, mas não pensei que fosse acontecer,” diz ele. Rosi também tem dois primos com fissura, o que aumenta ainda mais a probabilidade de ter uma criança com a mesma malformação.

Foi durante um exame de ultrassom morfológico que o casal soube que o bebê nasceria com o lábio aberto. “Eu fiquei triste e minha esposa também ficou bem sensível. Mas se Deus quis assim, é porque tinha que ser,” completa.

Por coincidência, Eduardo foi operado em uma missão da Operação Sorriso em Goiânia (GO), em 2003. A viagem de quase 2000km entre Altamira (PA), onde a família mora hoje, até a capital goiana levou cerca de 5 dias de carro. Junto com ele estavam um amigo – que também precisava da cirurgia reparadora – e o pai. “Me recordo de pouca coisa da operação. Só lembro que tinha palhaço, os voluntários sempre alegres... Foi bem divertido.” Outra memória que ele não esquece é de quando se olhou no espelho logo depois da cirurgia. “Foi bom demais esse momento! Ficou perfeito.”

Ele tinha só 11 anos na ocasião e ouvia muitos apelidos maldosos na escola por conta da fissura. “Ficava bem nervoso e batia nos garotos. Foi uma fase ruim.” Ao voltar para Altamira, os colegas olhavam admirados a mudança tão grande no rosto de Eduardo em tão pouco tempo.

Mal sabia ele que 16 anos mais tarde, estaria novamente em uma missão da Operação Sorriso, só que dessa vez em Santarém (PA) e com o filho recém-nascido nos braços.

Guilherme foi avaliado pela equipe médica na triagem e, no dia seguinte, eles foram informados de que o bebê não estava entre os 60 selecionados para cirurgia, mas tinha entrado na fila de espera.

A decepção por não ter sido escolhido deu lugar à euforia menos de 24 horas depois. Eles estavam no centro de Santarém, fazendo compras, quando o telefone tocou. Era a assistente social avisando que tinha aberto uma vaga e Guilherme seria operado. “Fiquem parados aí, que estamos mandando um carro para ir buscá-los”, disse a assistente.

A cirurgia aconteceu no mesmo dia. “Estou muito feliz que ele não vai passar pelo que passei na escola. Não tenho palavras para agradecer os médicos e os demais voluntários. É muita dedicação, organização e preocupação,” falou Eduardo. Rosi também deixou uma linda carta de agradecimento aos médicos, cheia de corações. “Espero que entendam minha letra, porque estava tremendo de emoção quando escrevi,” diz.

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Guilherme com a mãe e o cirurgião que o operou, Dr. Alexei Andrade

A lista de semelhanças entre pai e filho acaba de ganhar um novo item. Agora, ao invés da fissura labial, ambos têm em comum uma pequena cicatriz e o orgulho de poder sorrir sem vergonha.

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Guilherme e seu pai

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“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso