Um pai apaixonado

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Em meio a um mar de mães e filhos, um pai e sua filha se destacam no meio da multidão. Ele pega a bebê e a levanta no ar; ela retribui com sorrisos e uma gargalhada gostosa, que ecoa pelo ambiente. Ele lhe enche de beijos e ela ri ainda mais. É Izanildo, que leva nos braços a pequena Izabelly Cordeiro, de apenas 6 meses. Gisele, mãe da menininha, observa com ternura no olhar a interação entre eles.

Vindos de Oriximiná (PA), município localizado próximo à fronteira com o estado do Amazonas, a viagem de pouco mais de 150km até Santarém (PA) – onde a missão acontecia – levou longas 8 horas de barco. A sinuosidade dos rios na região amazônica transforma qualquer trajeto curto em uma viagem de muitas horas ou até dias.

Apesar de ser filha única, neta única e sobrinha única, Izabelly não foi o primeiro caso de fissura da família. Um primo de Gisele também nasceu com a malformação e foi operado em Belém (PA).

Mesmo tendo realizado o pré-natal corretamente, a abertura no lábio da menina não apareceu durante os exames de ultrassom realizados por Gisele; a descoberta foi no momento do parto. Quando perguntado se tinha ficado triste ao ver que a filha havia nascido com uma malformação, Izanildo não titubeia: “A gente aprende a amar os filhos do jeitinho que são. Pra mim ela é perfeita.”

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Por conta do parente fissurado de Gisele, a família sabia que existia tratamento para a bebê, mas pensaram que só conseguiriam a cirurgia na capital do estado – muito distante de Oriximiná - e, pior ainda, teriam que esperar vários anos na fila.

A boa (e inesperada) notícia veio por meio da secretaria de saúde do município, que avisou a família sobre a ida da Operação Sorriso a Santarém. O Tratamento Fora do Domicílio (TFD) é oferecido pelo governo quando não existe tratamento disponível no local de residência do paciente. O Estado paga a passagem do paciente até o lugar mais próximo que oferece o atendimento necessário.

Antes de viajar, no entanto, Izanildo soube que nem todos que compareciam à missão da Operação Sorriso eram operados, pois havia centenas de pacientes e um número limitado de vagas. Será que ela seria selecionada? Será que valia a pena fazer a longa viagem?

A família chegou a Santarém antes da abertura dos portões da escola onde aconteceria a triagem dos pacientes. Izanildo não acreditou no que viu. “Além da fila imensa, nunca tinha visto gente mais velha do que a Izabelly com o lábio aberto. Pensei que só o primo da minha esposa e a minha filha tivessem isso,” conta.

Ele lembrou ainda do jovem Guibson, que estava algumas posições à sua frente na fila e deu entrevista para um canal de TV contando sobre os preconceitos que viveu até conseguir a cirurgia. “Ouvir as palavras dele foi muito inspirador.”

Izabelly foi uma das primeiras pacientes atendidas e a notícia tão esperada veio no dia seguinte: entre as quase 200 pessoas triadas, ela tinha sido uma das 71 selecionadas para cirurgia!

A internação aconteceu 24 horas depois e a família comemorou intensamente. “O pessoal não para de mandar mensagem aqui no grupo,” celebrou Izanildo. “O esforço que fizemos para participar dessa missão foi grande, mas valeu a pena. A gente ouviu que algumas pessoas até saem da escola por causa da fissura labial, mas a Izabelly não vai passar por isso.”

Apesar da pouca idade da filha, Izanildo e Gisele já demonstram preocupação com os estudos da bebê. “Sou descendente de quilombola e sei das dificuldades que meus parentes passaram. Queremos dar uma vida digna para ela e sabemos da importância dos estudos”, conta ele.

Menos de um dia após a internação, Izabelly ganhava um último beijo de Izanildo antes de ser levada nos braços do anestesista para dentro do centro cirúrgico.

O reencontro entre os pais e a filha aconteceu cerca de uma hora mais tarde e encheu de lágrimas os olhos de todos que acompanharam a cena. Izabelly foi colocada nos braços de Gisele, e Izanildo veio em seguida, depositando um beijinho em cada pé da bebê com muito carinho. “Ela ficou diferente, né? Mas tá linda... Mais ainda do que já era!” 

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A foto da bebê com o novo sorriso foi enviada para toda a família no grupo do WhatsApp e, em poucos segundos, já pipocavam vários elogios. Ao mesmo tempo, também começaram a organizar um festão para comemorar a cirurgia. “Agora a gente pode começar a pensar em outros sonhos, né?”, disse um emocionado Izanildo. E quais seriam esses sonhos? “Eu quero estudar engenharia, minha esposa quer fazer ciências biomédicas... E a Izabelly agora também vai poder fazer o que ela quiser. Sem ter medo de sofrer preconceito!”

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“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso