A MENINA DOS OLHOS AZUIS
Os olhos azuis da cor do céu parecem dois imãs: todos que passam próximos da garotinha são atraídos pelo seu olhar e querem pegá-la no colo, brincar com ela, ver o sorriso brotar. A fissura no lábio fica em segundo plano perto do brilho dos olhos da pequena Esther.
A família, moradora da zona rural de Apodi, no interior do Rio Grande do Norte, já tinha buscado o tratamento para a garotinha em Natal, mas quando souberam da vinda da Operação Sorriso a Mossoró, decidiram esperar. “Eu já acompanhava a ONG nas redes sociais e sempre via o resultado das cirurgias, então falei: vai ser com eles”, lembra Luzia.
Na realidade, esse não foi o primeiro contato da família com a Operação Sorriso. Quatro meses antes, durante a realização do primeiro programa humanitário em Mossoró, a mãe havia levado a então recém-nascida para uma avaliação.
Como ainda era muito pequena, Esther não fez a cirurgia na época, mas foi orientada a voltar na próxima ocasião. “Lembro que nos trataram com muito carinho, fiquei muito bem impressionada daquela vez”, conta.
Esther tem um irmão mais velho, de 6 anos. O garoto nasceu saudável, por isso nunca passou pela cabeça da mãe que ela pudesse ter uma filha fissurada, até porque fez todas as consultas de pré-natal e tomou ácido fólico durante a gravidez.
Quando fez o ultrassom morfológico, a menina estava com a mãozinha na frente da boca e isso pode ter dificultado a visualização da fissura.
A família só descobriu que Esther era fissurada no parto. “Depois que ela nasceu, a enfermeira veio até mim e falou: você sabia que sua filha tem uma má-formação? Perguntei o que era, e ela disse: lábio leporino.” Depois descobriram também a fenda no palato.
Luzia confessa que no início ficou pensando por que sua filha havia nascido assim e se poderia ter feito algo diferente durante a gravidez para evitar. Qualquer casal tem risco de ter um filho com fissura ou outra má-formação. O risco de qualquer má-formação é de 5%, e de fissuras é de 1 em cada 650 nascidos. E o marido de Luzia, o agricultor Maicon, tem um parente com fissura, o que sempre aumenta a chance de ter uma criança fissurada.
Apesar de algumas dificuldades com a amamentação no início, Esther foi se desenvolvendo e ganhando peso, tanto que chegou à missão super saudável.
No pós-operatório, ainda cansada da cirurgia, Esther só acorda chorando quando está com fome. Mas o choro não dura muito, porque a mãe e avó, Cícera – que veio lá de Apodi para ajudar a filha – estão a postos para enchê-la de carinho e atenção.
Ainda que Esther, do alto de seus 4 meses de idade, não tenha consciência da cirurgia, a mãe sabe que esse procedimento mudará a vida dela, e não só na parte estética. “Se ela crescesse com esse problema, com certeza ia me perguntar por que não operou antes. Então sei ela pode estar com dor e reclamando agora, mas é para o bem dela”, diz Luzia.
A foto da menina com o lábio fechado já foi enviada para toda a família por um aplicativo de celular. “Eles disseram que ela ficou linda. E ficou mesmo!”, concorda a avó coruja.
E a menina dos olhos azuis volta a dormir. Quando seus olhos azuis abrirem novamente amanhã, já será a hora de voltar para casa. E de continuar encantando a todos com seu olhar cativante.
Esther, 1 ano depois da cirurgia
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