O MENINO DO MACARRÃO

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Voar, ser um super-herói, jogador de futebol... Se perguntar para uma criança qual é o maior sonho dela, a lista deve ser longa e criativa. Mas Lucas Lima, de 5 anos, tem desejos mais simples: conseguir comer macarrão chupando os fiozinhos e voltar à escola. Coisas aparentemente banais para uma criança, mas que se tornam uma barreira para quem nasce com fissura labial, como é o caso dele.

Lucas é um guerreiro desde o nascimento. Sua mãe, Gleiciane, de 21 anos, teve toxoplasmose durante a gravidez e temeu pelo pior. A toxoplasmose é muito perigosa para o feto e pode causar vários problemas, como cegueira e atraso mental. “Chorei muito depois do parto, mas foi de alegria, por saber que apesar desse probleminha no lábio, ele tinha nascido saudável,” conta Gleiciane.

O tempo passou e Lucas foi matriculado na escola com três anos. Mas a experiência durou poucos meses. “Todo dia ele chegava chorando. Chamavam de ‘beiço rasgado’, diziam que tinha buraco na cara... As crianças não perdoavam,” lembra Gleiciane. A solução, infelizmente, foi tirá-lo da escola. “Mas depois que operar, vou voltar”, completa Lucas.

Mesmo longe da sala de aula, Lucas foi se desenvolvendo como qualquer garoto da sua idade. “Gosto de videogame e aprendi sozinho a montar quebra-cabeça e andar de bicicleta sem rodinha”, diz. A mãe diz que também gosta de levar ele e a irmã mais nova, Vitória, para passear, mas Lucas sempre esconde a boca para escapar dos olhares das outras pessoas.

Não foram poucas as tentativas de fechar a pequena fissura no lábio de Lucas, mas em cada oportunidade, uma nova doença impedia a realização da operação: gripe, anemia, infecção... Foram cinco oportunidades perdidas. Na última visita ao hospital, o médico avisou sobre a vinda da Operação Sorriso à Fortaleza. A família logo se organizou para participar da ação. O pai ficaria cuidando de Vitória, enquanto a mãe acompanharia o garoto no hospital. 

***

O momento da cirurgia se aproxima. Lucas monta um quebra-cabeça e parece estar alheio aos acontecimentos ao seu redor. Sua mãe, no entanto, está sentada, olhando fixamente para a porta de onde os médicos saem para chamar o próximo paciente. “Tô só na expectativa daquela porta abrir e de ouvir o nome dele”, diz. As mãos suadas e os pés que não param quietos denunciam o nervosismo. 

Minutos depois, esse momento chega. 

***

Gleiciane está parada na porta do centro cirúrgico, as mãos ainda mais suadas e os pés ainda mais inquietos. Espera alguém vir buscá-la para ver Lucas, que já está no pós-operatório. Quando a enfermeira aparece, as primeiras lágrimas começam a escorrer pelo rosto.

No momento em que vê seu filho, ela se ajoelha. “Obrigada, meu Deus, obrigada!” E as lágrimas não param mais. “Lindo, lindo, lindo... Eu não tenho palavras pra explicar a emoção que eu tô sentindo de ver meu filho assim. Eu queria agradecer muito a vocês, porque das outras vezes que ele não conseguiu operar foi muito decepcionante e eu não achava mais que poderia acontecer. Ele só me pedia: ‘mãe, depois da cirurgia me bota no colégio, porque eu quero aprender a ler’ e agora finalmente ele vai poder voltar a estudar. Obrigada!”

O discurso comoveu os voluntários que estavam lá acompanhando o garoto e Gleiciane ganhou um abraço coletivo da equipe. 

Quando Lucas e ela se olharam, Gleiciane repetiu: “tá lindo, meu filho, lindo demais!”

Um dos médicos perguntou como seria a festa para comemorar a realização da cirurgia. “Ele já avisou o pai, que é quem cozinha a janta, que é para preparar a macarronada. Ele via a minha sobrinha puxando o fiozinho do macarrão e perguntava: ‘pai, por que eu não consigo fazer igual?’ E o pai disse que ele ia conseguir depois da cirurgia,” diz Gleiciane. 

Um dos desejos de Lucas, fechar a fenda no lábio, já foi realizado. O outro – comer macarrão chupando o fiozinho – seria realizado em seguida.

E o último – voltar para a escola – foi realizado no início de 2015, quando Lucas foi matriculado novamente no colégio. Dona Lúcia, avó dele, também contou que agora Lucas brinca com as outras crianças e não esconde mais a boca com as mãos.

Quais serão seus novos sonhos? 

“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso