SUZY TOP MODEL

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Vitória do Jari, no sul do Amapá, tem uma estrela em ascensão entre seus pouco mais de 10 mil habitantes: uma futura modelo internacional. Do alto de seus 6 anos de idade, uma garotinha muito especial, que nasceu com fissura no lábio e no palato e já passou por 3 cirurgias reparadoras, tem certeza que vai realizar esse sonho.

Seus pais, a dona de casa Rosilene Martins, de 32 anos, e o mecânico Marcos, de 33, só souberam na hora do parto que a filha havia nascido com fissura. “A enfermeira falou: sua filha veio com um problema... A boquinha dela é aberta,” lembra. Como nunca tinha visto uma criança fissurada antes, a mãe ficou assustada. No entanto, os médicos tranquilizaram a família ao explicar que seria possível operar o lábio e o palato da menina quando ela crescesse.

Decidida a conseguir uma cirurgia para a filha, Rosilene juntou dinheiro e viajou até a capital do Estado, Macapá, para consultar um neurologista. Mas ao chegar lá, foi informada de que ele nada poderia fazer, pois ela deveria procurar um cirurgião plástico. A espera pela consulta com o especialista durou 4 meses, quando finalmente conseguiu incluir o nome de Suzy na lista de espera por uma cirurgia reparadora.

Rosilene só não contava com a demora entre entrar na fila e conseguir, efetivamente, fazer a cirurgia. Foram 2 anos até a menina ser chamada para operar o lábio em um hospital de Macapá. O palato e a correção do nariz ficariam para uma próxima oportunidade.

Suzy cresceu e, aos 4 anos, foi matriculada na escola. Mas a adaptação não foi tão fácil quanto sua mãe esperava. Ela conta que no começo, Suzy adorava ir para a escola. Pedia à mãe para arrumá-la, porque queria sair logo e ir estudar.

Mas não demorou uma semana para a situação mudar. De repente, as desculpas começaram a surgir na hora de ir à escola – dor, sono, cansaço – e foi quando a mãe percebeu que algo estava errado. Uma conversa com a filha escancarou as dificuldades vividas por uma criança fissurada: os coleguinhas a chamavam de doente mental e faziam piadas por causa de sua voz anasalada. Rosilene conversou com a professora, na esperança que a situação melhorasse, mas pouco mudou. Na triagem da missão de Santarém, em 2015, a fonoaudiólogo pediu à garotinha para falar o nome de 5 amigos da escola. A menina respondeu com um longo silêncio.

A solidão da pequena Suzy era aplacada pelas amizades feitas nas aulas de carimbó e quadrilha, que ela passou a frequentar na mesma associação onde fazia fono. “Ela gosta das aulas de fono, porque tem outras crianças iguais à Suzy,” conta a mãe.

Quando soube da vinda da Operação Sorriso à Santarém, em 2014, Rosilene decidiu agarrar a oportunidade. “A gente precisava aproveitar essa chance. Eu sabia que a viagem ia ser longa e muito cansativa, mas não podia perder a chance. Demorou mais de 2 anos para ela operar o lábio, sabe Deus quanto tempo ia demorar para conseguir as outras cirurgias que a minha Suzy precisava,” diz.

Aproximadamente 500km separam Vitória do Jari de Santarém. O meio de transporte mais rápido entre as duas cidades é o barco, que leva 3 dias para descer o rio Amazonas, cercado pela densa floresta, até a cidade paraense.

Rosilene sabia que o futuro de sua filha mudaria após a cirurgia, mas não imaginava que o encontro com uma celebridade durante a triagem da Operação Sorriso causaria uma transformação tão grande em sua autoestima.

Em 2014, a top model internacional e estudante de medicina Ana Claudia Michels acompanhou a missão em Santarém. No dia da triagem, além de ajudar no atendimento aos pacientes, atendeu inúmeros pedidos para tirar fotos. Um deles veio da pequena Suzy, que se encantou com a beleza da modelo.

No fim do dia, voltando ao albergue onde passariam a noite à espera da notícia se havia sido selecionada para a cirurgia ou não, Suzy virou para a mãe e disse que tinha decidido o que queria ser quando crescesse: modelo internacional.

Naquele ano, Suzy foi uma das 73 pacientes selecionadas para operar. Sua cirurgia transcorreu bem, porém só foi possível operar uma parte do palato e fazer uma correção no nariz. O resto das cirurgias necessárias ficaria para o próximo ano.

Em abril de 2015, Suzy teve outro reencontro com Ana Claudia Michels, só que dessa vez à distância. A menina brincava em uma praça de Vitória do Jari, quando viu uma matéria na TV sobre a despedida da modelo Gisele Bündchen das passarelas. Ao ver Ana Claudia ao lado de Gisele, Suzy virou-se para a mãe e disse: “Mãe, olha lá minha colega!”

Decidida a conseguir o restante das cirurgias para sua pequena modelo, quatro meses mais tarde, Suzy e sua mãe enfrentaram novamente o longo percurso de barco para participar da triagem da Operação Sorriso em Santarém. E, mais uma vez, a menina foi selecionada para a cirurgia.

Já pensando na sua futura carreira, Suzy fez um pedido específico aos médicos: queria que corrigissem seu nariz, para que ela ficasse ainda mais bonita. “A gente veio aqui para ela operar o palato, mas ela só pensa do nariz,” diverte-se Rosilene.

Desejos atendidos. Nossa modelo foi operada no 2º dia da missão. Vinte e quatro horas mais tarde, pouco antes de receber alta, Suzy passeava com desenvoltura entre as outras crianças. O cabelo cuidadosamente arrumado e o vestido cor de rosa iluminavam seu rosto. “Ela é super vaidosa, adora se arrumar,” confidencia a mãe.

Rosilene confessa que nem sonhava conseguir que a filha realizasse as cirurgias necessárias em tão pouco tempo. “Nem se eu viver 100 anos vou poder agradecer os médicos da Operação Sorriso. Vocês mudaram a vida da minha filha e de toda a família. Muito obrigada.”

Agora que fechou o palato, as sessões de fono devem se intensificar para que Suzy consiga falar cada vez melhor. Afinal, ela terá que dar muitas entrevistas quando se tornar uma modelo. Para quem já venceu tantas dificuldades na vida, alguém duvida que ela alcançará seu sonho?

“Toda criança que nasce com deformidade facial é nossa responsabilidade. Se nós não cuidarmos dessa criança, não há nenhuma garantia de que outra pessoa o fará.”

- Kathy Magee, cofundadora e presidente da Operação Sorriso