DAVI E A CORRENTE DO BEM
Hoje vamos contar a história do Davi. E do Jomaelson. E da Ályda. Ah, e da Mylena também! Sim, 4 pacientes em um único relato, porque um não teria conseguido a cirurgia gratuita da fissura labiopalatina sem a contribuição do outro.
Muitas coisas na Operação Sorriso só acontecem porque há um elo de pessoas trabalhando pela mesma finalidade; uma corrente que mobiliza muita gente para beneficiar uma ou mais pessoas com a tão sonhada operação.
Vamos começar pelo mais novo de todos, Davi Luís, de 5 anos. Ele não fala muito. Aliás, não fala com ninguém além do pai, seu Cristóvão. Todas as respostas de Davi para qualquer outra pessoa são silenciosas, mexendo apenas a cabeça para sinalizar ‘sim’ ou ‘não’. As mãos ficam sempre atrás das costas e o rosto, virado para baixo. O motivo de todo esse recato? Um misto de timidez e medo dos olhares por causa da fenda bilateral que corta seu lábio.
Davi é de Taipu (RN), um pequeno município a cerca de 50km de Natal. Ele mora com a família e divide o quarto com seu pai, sua mãe e outros 7 irmãos. Eram 8, mas um foi assassinado há pouco tempo.
Seu Cristóvão é analfabeto, mas a esposa estudou até o 4º ano primário e todos os filhos frequentam a escola. Exceto Davi. Os pais têm medo que ele sofra com comentários maldosos ou até mesmo algum tipo de violência por causa da aparência.
“Pai, quando vão fechar minha boca?” Segundo seu Cristóvão, essa é uma pergunta frequente feita por seu filho.
Mas apesar de todo o acanhamento, Davi é uma criança alegre. Quando um voluntário fantasiado de Flash fez uma aparição na ala pré-operatória, o garotinho abriu um sorrisão, deu a mão para o superherói e os dois saíram explorando o hospital juntos.
O sorriso de Davi também brotou quando seu pai foi entrevistado por uma equipe de TV. O garoto ficou encantado com o cinegrafista, que o pegou no colo e mostrou como funcionava a câmera.
Mas o pequeno Davi jamais teria chegado à missão se não fosse por Jomaelson. E assim chegamos ao segundo personagem dessa história.
O vigilante, de 35 anos, também mora em Taipu e nasceu com fissura labial. Ele foi operado aos 7 anos de idade, no Centrinho de Bauru (SP), mas seu lábio ainda precisa de um reparo. Segundo Jomaelson, onde quer que vá, todas as pessoas olham para sua boca. “Sabe quando você tá no cinema e todo mundo olha junto pra tela? Eu me sinto assim, como se meu lábio fosse sempre o centro das atenções,” diz.
O filho de Jomaelson nasceu com autismo, por isso ele frequenta o CRE (Centro de Reabilitação Especializado), em Natal. Em uma dessas visitas, conheceu o trabalho da Apafis (Associação de Pais e Amigos de Fissurados do Rio Grande do Norte), que estava realizando a ‘Semana do Fissurado’ no CRE naquela semana. “Logo que vi a Apafis, lembrei do Davi, que mora perto de mim,” disse Jomaelson.
E, graças à Apafis, outra personagem entra nessa história: a Ályda,. Ela integra a associação e ajuda a recrutar pacientes para as missões da Operação Sorriso, da qual ela também já foi paciente.
Jomaelson falou com a Ályda sobre o Davi e eles foram atrás para falar com os pais dele. Seu Cristóvão ficou muito feliz com a possibilidade de conseguir a cirurgia gratuita para o garoto, mas havia uma barreira. Todos os documentos de Davi estavam com uma outra mulher, que disse aos pais de Davi que conseguiria a cirurgia para ele por meio de outra campanha, em Natal.
Só que essa outra campanha nunca existiu. No entanto, a mulher insistia em ficar com os documentos de Davi. Foi então que Alan, marido de Ályda, resolveu intervir. Junto com seu Cristóvão, eles foram a uma delegacia para recuperar a papelada. “Nunca pensei que a gente fosse ter que colocar a polícia no meio da história para garantir a cirurgia do Davi,” disse Jomaelson.
Diante de tanta confusão, a família quase chegou a desistir de viajar com o menino, mas Ályda manteve contato com a irmã dele, que tinha telefone, e mandou uma foto de antes e depois de um paciente operado em uma missão da Operação Sorriso. O resultado impressionou. “Mas será que meu irmão vai ficar assim também depois da cirurgia?”, ela perguntou a Ályda. “Vai sim, pode ter certeza!”
Alan, Davi e Ályda
O contato com a polícia deu certo e eles recuperaram os documentos. Com a papelada em mãos e a confiança no grupo, seu Cristóvão começou a se preparar para a viagem.
Mas ainda falta uma pessoa nessa história: a jovem Mylena, de 24 anos. Jomaelson comentou com o pastor de sua igreja que iria a Mossoró para tentar uma vaga na missão da Operação Sorriso. Foi quando ouviu do pastor: “a minha irmã também nasceu com fissura!”
E assim estava fechado o grupo de pacientes vindos de Taipu: Jomaelson, Mylena, Davi e seu Cristóvão.
Ályda e o marido moram em Mossoró, onde se reencontraram com o resto da turma.
A missão começou no dia 14 de janeiro e no dia seguinte, todos acordaram com uma ótima notícia: Jomaelson foi selecionado para fazer o reparo no lábio; Ályda, para fazer uma correção no nariz; Davi, para fechar o lábio; e Mylena, para operar uma fístula.
Seu Cristóvão, Davi, Jomaelson e Mylena
Mas a melhor novidade de todas ficou para o final: a mãe de Davi o matriculou na escola e ele começaria a estudar alguns dias depois de voltar para casa.
No dia seguinte à cirurgia, ele continuava quietinho, mas brincava feliz com a moto que havia ganho no kit de alta, que todos os pacientes recebem antes de sair do hospital. Ályda batia papo com sua companheira de quarto. E, antes de sair, passou pela sala de psicologia e pela entrada do centro cirúrgico para se despedir de outros membros da equipe da Operação Sorriso. Mylena repousava pacientemente em seu quarto, assim como Jomaelson, que assistia TV enquanto aguardava a visita dos médicos para ter alta. Seu aniversário seria na próxima semana. “O presente veio adiantado,” comentou, sorrindo.
Davi, Jomaelson, Mylena, Ályda (e Alan!). Uma corrente do bem. Uma história que jamais aconteceria se não houvesse tantas pessoas envolvidas com um único objetivo.
Que venham mais e mais relatos assim. E sempre com final feliz!
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